Hoje me flagrei pensando forte em felicidade. Poderia achar
que por coincidência (mas fatalmente não), já que nas últimas semanas tenho
encontrado pessoas – mais precisamente mulheres – que estão às voltas com esse
mesmo tema, cada qual do seu jeito, sua idade e uma história diferente pra
contar. E aí me veio a lembrança daquele Mac Lanche Feliz. A tal felicidade
infantil estaria contida numa caixinha que, fazendo vista grossa a qualquer
ideia de boa nutrição, carrega uma receita certa de alegria pra
toda e qualquer criança, a menos que seja filha da Bela Gil: nuggets de frango crocantes,
batatinha frita quentinha, suco adocicado, um Danoninho gostoso e o tão cobiçado
brinquedo da vez. Só que aí a gente abre a caixinha e vê que os nuggets são
borrachentos e insossos; as batatinhas vêm pior que pinto de velho - frias e murchas; o suco é tão doce
que você nem reconhece o sabor (e olha que aquela foi sua segunda opção, porque a que
você pediu primeiro já tinha acabado); o Danoninho chega em temperatura ambiente,
numa São Paulo de 30 graus à sombra, e o brinquedo é uma tralha mal pintada que
vai ficar esquecida num canto do quarto dentro de 4, 3, 2, 1... Mas mesmo assim
você continua fazendo a vontade dos seus filhos, pedindo a tal caixinha e sorrindo amarelo – afinal, você pagou pela ideia de um Mac Lanche Feliz e todos
os elementos da tal felicidade macdonaldiana estão lá, certo? Então
bora ficar feliz.
A gente às vezes pega no pé dos pequenos por insistirem na
refeição de papelão, mas, do alto de nossa experiência madura, faz a mesma
coisa com a vida. Ora, se seguimos o script do que todo mundo diz que uma
pessoa precisa fazer pra ser feliz, por que cazzo daria errado? Estuda, se
forma, trabalha, casa, tem filhos lindos, mora bem (ou tenta), viaja, trepa (ou tenta) e
por aí vai. Por que cargas d’água isso não incluiria a gente no rol das pessoas
felizes? Por outro lado, quem está infeliz e ainda não tabelou o tal script vai
direto na listinha, só pra ver o que tá faltando: “ah, tá explicado! Eu ainda
não tenho filhos!” ou “ah, óbvio: eu não encontrei o homem dos meus sonhos!”. E,
mais uma vez, por aí vai. Enquanto os elementos da nossa caixinha de Mac Vida
Feliz não estiverem completos, a gente vai achando que não se sente feliz e
realizada porque ainda faltam os nuggets, o marido, a batata, o sucesso
profissional, o brinquedo do mês. E quando a gente consegue finalmente conquistar
o conjunto da obra, descobre que não era bem o que a gente imaginava.
Por que será que a mulherada anda tão infeliz? Ou, pior, por
que será que a mulherada está se conformando com uma felicidade de mentira,
murchinha e insossa, esquecida no canto do quarto? A primeira conclusão a que
chego é que tá na hora da gente PARAR – não de se cobrar, que a cobrança gera superação pra caramba, mas de se CULPAR. Em vez disso, que tal se
responsabilizar? Culpa é coisa de maria madalena - aquela mina insuportável que fica chorando pelos cantos e gritando "por que será que eu fiz issooooooo???" (been there, done that); já responsabilidade é
conseqüência de quem fez e faz escolhas. E os efeitos de uma e outra na nossa
cabeça – e na nossa felicidade – são bem diferentes. A partir daí, com mais
consciência na cabeça e no peito, a gente precisa ficar alerta pra tomar
decisões. E decidir, mudar, mudar de novo e de volta. Tá na hora de descer
dessa cruz de santa-siririqueira-chibatada e experimentar um pouco mais a vida, sem medo do
que os outros vão pensar – e sem medo de perder a ilusão besta de uma caixinha de papelão, mas fechada e segura, merci.
Em segundo lugar, chega de ouvir aqueles que culpam a gente
por tudo. Porque, aí sim, existe uma linha tênue: quem TE responsabiliza por
tudo não SE responsabiliza por nada. A porra toda vira culpa, por mais que o
interlocutor, quer seja marido, namorado, ex-marido, mãe, pai, irmão ou amiga,
queira chamar de outra coisa. E se você não tá a fim de calçar os sapatinhos de
madalena arrependida, saiba assumir pra você as suas responsabilidades – e
deixar de fora aquilo que, você sabe bem, não leva sua assinatura nessa
história.
Em terceiro lugar – e talvez o mais importante –, pare de se
definir pelo que as outras pessoas falam de você. Cada um tem uma opinião e uma
experiência dos outros, mas ninguém sabe de você tanto quanto... Você. Então, a
partir de já, não fale pra ninguém o que os outros acham de você. Simplesmente
fale, você mesma, de você. Felicidade não vem em caixinha, não tem receita e
nem é um estado constante na vida – ainda bem, senão a gente ia ser um cacho de
banana esperando pra ser colhido, sem nada pra fazer na vida a não ser se
sentir “feliz”. Mas busque seus momentos de felicidade – e entenda que a
satisfação mais gostosa não segue padrões, não cumpre receitas e está na busca, não no resultado. É isso que faz
a gente ser mais a gente e, no final das contas, mais VIVA – doa a quem doer.
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